domingo, 30 de novembro de 2014

Sob as "nuvens" da Toscana!

E então eu recebi a carta de aceite, e falei:
_ Uau não acredito, vou morar na Toscana, a parte mais ensolarada, quente e alegre da Itália!
E a vida me respondeu:
_ Vai com calma queridinha, não é bem assim...


Pois é Brasil, como falei no post passado, a chuva aqui não para, e venho por meio desta detalhar para vocês essa vida de pés constantemente úmidos... Lembro que enquanto me preparava para vir morar aqui, olhava muitos filmes, entre eles Sob o Sol da Toscana (onde o próprio nome já te avisa que tem sol), depois Cartas para Julieta (que teve cenas filmadas aqui em Siena) ou até mesmo Comer, Rezar, Amar... E todos eles retratam o tempo maravilhoso que faz na Itália, agora eu gostaria de saber dos diretores dos filmes: Como vocês gravaram por tanto tempo sem chuva? 
Eu estava preparada para belos dias de sol, com o céu de um azul único, belos italianos trabalhando nos campos e vinhedos, pessoas comendo ao ar livre no fim do dia, a alegria escorrendo em forma de suor... E com o que eu me deparo? Chuva, muita chuva, seguida de temporal no final do dia, e com sorte suas manhãs são apenas nubladas, mas não se anime a precipitação volta logo após o meio dia.
E os meus belos sonhos iluminados se transformaram em uma realidade um tanto cinzenta, para ser gentil! Tudo gira em torno do tempo, começando pela roupa que você vai usar: não se pode colocar um all star em dia de chuva, pois é a mesma coisa que andar descalça, depois tem a calça que inevitavelmente vai molhar, e bate aquele pânico de tudo que está dentro da mochila encharcar, porque a sombrinha não é grande o suficiente (claro que estamos contando que você não vai esquecer a sombrinha em casa, fato que pode acontecer, já ocorreu comigo, e serviu para eu aprender que mesmo se tiver sol, nunca, jamais tire ela de dentro da bolsa). E então reunindo toda a coragem do meu ser, eu saio em direção a universidade, em busca de conhecimento, começo a me sentir até um tanto animada, esboço um leve sorriso, lembro da cena do filme dançando na chuva...


E quando convenço o meu subconsciente de parar de reclamar... Um carro passa em cima de uma poça de água propositalmente, e joga ela em mim... E como se não bastasse um, a atitude é seguida por mais dois outros carros, onde os motoristas davam risada... Sabe o que aconteceu? Voltei a reclamar! (E xingar mentalmente eles). Aqui nesse quesito o pessoal deixa a desejar na hora da educação, tudo que eles puderem levar na brincadeira eles levam, e as vezes acaba extrapolando e desrespeitando os outros... 
Mas seguindo o bonde, outra coisa que as condições climáticas interferem diretamente é as compras pra casa, porque não tem como carregar as inúmeras sacolas e ainda por cima uma sombrinha, isso é contra as leis da física, e com isso você descobre que só pode ir no mercado de mãos vazias... E obviamente você não sai nem de casa, faz muito tempo que não vou ao centro nem a Piazza del Campo... Acho que até já esqueci como chego lá!
E assim estamos seguindo, a cada anoitecer corremos para os sites que dão a previsão para os próximos dias na esperança de ver um desenho de sol talvez na terça, ou quem sabe até na sexta-feira da semana seguinte, continuamos acreditando que o ele vai voltar, pelo menos antes da virada do ano o sol tem que voltar...
A poucos dias de embarcar para Siena me avisaram que a cidade era conhecida por ser bastante chuvosa, e eu pensei "Gente eu moro no RS, se tem uma coisa que entendo é tempo instável!" Ahh a pretensão humana... Sempre fazendo crer no que não é verdade! 
Daqui algumas semanas acabamos o outono e já entramos no inverno, e estou torcendo para que o tempo melhore, antes frio do que chuva, e antes chuva do que os dois juntos! 
Mas tenho que dar um crédito para Siena, ela realmente fica charmosa com seus prédios molhados, e fica mais encantadora ainda pelo fato de que mesmo com o mundo desabando há mais de um mês, nenhuma rua sequer alagou, nem uma gotinha há mais de água do que o necessário escorre pelas calçadas... Poderia quase ser romântico caminhar por suas ruelas perdida em algum sábado a tarde, mas só poderia mesmo, porque tudo isso se desfaz quando o cenário se mantém há mais de 31 dias...

Não pode chover para sempre, onde você mora?
Siena :'(
E é isso aí pessoal, vou terminando por aqui esse post um tanto rabugento e úmido, porque tenho que ir lá pendurar minhas roupas e rezar para que sequem (estou segura que isso não vai acontecer) mas vamos torcer né?!

Beijos, da garota que está na Itália...

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Sobre nariz entupido...

Então em uma noite você percebe que começou a espirrar mais do que de costume antes de dormir, uma sensação estranha como uma premonição, mas claro que isso será ignorado... Na manhã seguinte ao despertar vem a confirmação do alerta da noite anterior: você está gripado! Ou no caso, eu estou gripada, e como se não bastasse estar longe do colo de mãe (vulgo sopa que ela faz) estou distante da minha casa e não suficiente, longe do meu país! O que se faz em uma hora dessas? Claro que é se desesperar, chorar e querer voltar pra casa! Mas como a vida não faz as nossas vontades a cada momento, temos que aprender a nos cuidar... E foi o que tentei fazer!
Claro que antes de todo esse conceito maduro eu primeiro sofri com os sintomas desagradáveis de um resfriado que me deixou com o corpo doendo, a cabeça explodindo e a sensação de que tinha tomado um remédio pra dormir que não me deixava saber exatamente o que estava acontecendo... Realmente não foi uma manhã fácil, e assim que a minha mãe ficou sabendo da minha situação, ela me mandou a receita que humildemente venho compartilhar com vocês, a receita que me ajudou a sair daquela gripe maligna, nada mais nada menos que CHÁ DE GENGIBRE!



Vai precisar de gengibre obviamente, água e mel! Aí você vai encher um recipiente com água (no meu caso foi a leiteira mesmo, porque casa de estudante não é chique por isso não tem chaleira nem coisas afins) e vai colocar lascas de gengibre a vontade, isso mesmo coloca bastante que é pra ficar forte como você deveria estar, e então leva ao fogo e deixa isso ferver... Enquanto espera: em uma caneca coloque duas generosas e doces colheres de mel (ou menos ou mais conforme seu gosto) e por fim, depois que o chá ferver você despeja ele na sua caneca e espera esfriar um pouco e tudo aquilo se misturar... Assim que ele não queimar mais a sua boca a cada gole, beba tudo e vá descansar, garanto que logo estará bem!
Receita divulgada para a humanidade, dever cumprido !
Mas sabe, no meu caso não adianta muito tomar o chá e ter que caminhar todo o dia pra faculdade no frio e atualmente na chuva, algo em torno de 30 minutos, lembrando que é meia hora pra ir e meia hora pra voltar, agora me diz jovem, quem fica bom assim?! As dores no corpo sumiram, e a dor de cabeça também, mas o vento e a umidade constante dos meus pés a cada caminhada pra aula fez a tosse chegar e meu nariz entupir! Com esses resquícios de resfriado eu continuo lutando, espero que agora no final de semana eles aliviem e me larguem... 
Fora que estar doente é a pior coisa pra quem está longe de casa há mais de uma semana, milhas e milhas distante do meu amor... parece que tudo piora, a saudade aumenta (mas isso acontece constantemente e não só porque estou com vários anticorpos em guerra contra agentes invasores no meu organismo) e você só pensa em como seria bom estar na sua caminha, com sua família na volta, com a comida da mãe, a televisão (coisa que eu não tenho aqui) e a facilidade de poder descrever tudo que está sentindo em português... Nunca se esqueçam: você só descobre se fala bem um idioma quando precisa explicar pra alguém a frase "estou de nariz entupido" sem parecer que quer que a pessoa limpe o seu nariz... Isso pode ser constrangedor!


opa, acho que estou no sexo errado!
Mas seguimos a vida assim, dores de cabeça pra cá, narizes escorrendo pra lá, e chá de gengibre a todo o instante pois ele ajuda a respirar melhor, e claro cuidar da alimentação e hidratação... Já estou acostumada com uma queda na imunidade em troca de estações, mas isso na Itália era novidade, e quer saber? Não gostei, quero minha casa! 
Agora parando com o momento sofredora, e mudando rapidamente de assunto, já está quase fechando quatro meses que estou aqui gente, e tenho a sensação que faz mais tempo, tanta coisa aconteceu nesses meses que tenho a impressão que vou completar um ano de Itália isso sim!
Minhas aulas começaram com tudo, o semestre aqui é iniciado no fim do ano, faz uma pausa no Natal e retorna logo nos primeiros dias de janeiro, e as provas ocorrem em fevereiro, um pouco diferente do que acontece no Brasil.
E atualizando vocês sobre o tempo na Toscana (aliás utilidade pública hein? Nada melhor do que quebrar o gelo e começar uma conversa com "nossa você viu como anda o tempo na Toscada baby?") A chuva não para, não dá trégua, vou aprender a nadar! Faz mais de três semanas gente, 21 dias de chuva ininterrupta, espero voltar a ver o sol antes do ano acabar! Se bem que, como diz o povo daqui, quando a chuva para a neve chega, então logo logo o frio vai ficar pior do que já está!  
Acho que era isso Brasil, um post atualizando vocês sobre minha saúde (algo de suma importância, ok?!) e claro passando uma receitinha básica de chá, espero que tenham gostado e se experimentarem a infusão de gengibre por favor me falem!!

Beijos, da garota que está na Itália!

domingo, 23 de novembro de 2014

Que tal falarmos sobre alojamento?

Há mais ou menos um ano atrás lembro que meu programa favorito para os finais de semana era visitar blogs para descobrir mais sobre essa vida de intercambista (aliás hábito que mantenho até os dias de hoje) e um dos assuntos prediletos era residência universitária! Adorava ler posts que descrevessem nos mínimos detalhes o dia a dia naquele lugar... Bom chegou minha vez de fazer isso!
Eu escolhi morar na universidade por vários motivos e  também por dúvidas que assombravam minha mente em relação a como seria  morar em outro continente. Porém acima de tudo isso, o que mais pesou na minha decisão foi que eu queria conviver com pessoas de outros países, praticar meu italiano da hora que acordasse até a hora de dormir, e absorver tudo que eu conseguisse de outras culturas... E está dando certo!





Vou começar contando que a residência onde moro é diferente de todas as outras, porque na maioria delas você ganha apenas um quarto, e a minha foi projetada para ser um apartamento... Calma que eu explico!
Qualquer alojamento de universidade a cozinha é comunitária, o quarto é em dupla e com sorte vocês tem um banheiro... Aqui onde eu moro tenho um apartamento que divido com mais 4 garotas! Dois quartos são em dupla, um individual, a cozinha é para 5 meninas (sinônimo de louça sempre limpa), temos dois banheiros, sala de estar e uma lavanderia que também é só para nós! Uma vez uma professora me perguntou com quem eu morava, então fiz de cabeça a lista de nacionalidades que ocupavam essas paredes comigo, quando respondi ela deu risada e disse: "Olha tu vai aprender italiano e de bônus terá noções básicas de espanhol, francês e alemão!" Pois é, divido meu apartamento com meninas de todos os cantos da Europa, e todo o dia eu aprendo algo novo com alguma delas e sim, estou aos poucos aprendendo o idioma desses países que aprendi a gostar.
A experiência é a melhor possível, mas sei que dei sorte por sermos todas no fundo um pouco parecidas, e porque desde o inicio existem muitas regras entre nós, como por exemplo: sujou  qualquer coisa da cozinha já limpa antes mesmo de comer, combinamos os dias de lavar as roupas, sempre cuidamos pra manter tudo organizado  e nada de visitas aqui, todas concordamos que ninguém gosta de acordar de manhã e ter alguém que você não conhece sentado na sua sala, assim também foi combinado que quando alguém tem prova, o silêncio reina na casa pra pessoa poder estudar... Cada uma geralmente fala com sua família por Skype em uma determinada hora, e eu tenho a sala só pra mim a noite, pois é a hora que mais gosto de falar (pois fecha com o fuso horário do Brasil). E conseguimos manter isso em uma certa harmonia, tem funcionado para nós, talvez de certo para você também, nada como uma boa conversa logo no primeiro dia! 


Se hoje alguém me pedisse um conselho sobre onde morar, com certeza eu iria falar para a pessoa ficar na residência da universidade, aqui eu me sinto como naqueles filmes americanos, sabe? É tanta gente que circula pelos corredores de tantas origens diferentes, que eu não consigo acreditar que você vai vir para um  intercâmbio, largar seu país e seus confortos e não vai querer vivenciar todos os tipos de cultura a cada segundo, pois é essa a proposta inicial de toda essa viagem, agregar conhecimento, e tem certas coisas que não adianta, é apenas no dia a dia que você aprende! Por exemplo, esses dias subi meus quatro lances de escadas (moro no quarto e último andar, tenho elevador mas estou sem grandes sucessos tentando manter a linha saudável que sempre sobe de escadas) conversando com um menino da Africa Central, que foi uma das pessoas mais gentis comigo logo que cheguei, e fez com que eu sentisse que teria amigos aqui... No apartamento de baixo do meu tem italianos de todas  as partes, e é fantástico o quanto se aprende com eles em relação a idioma, como tem dialetos nesse país! Eu jurava que sabia falar italiano fluentemente, até tentar  desenvolver um diálogo com eles!! Olha realmente não da pra eu enumerar a quantidade de nacionalidades que existem nessa residência pois tenho a certeza absoluta que tem pessoas de cada canto do mundo e eu realmente não estou exagerando! É gente de cada país representando suas crenças e costumes e com um objetivo em comum: ir bem nas provas da faculdade que são aplicadas em italiano!  Em relação a minha pessoa só posso dizer que sou a única brasileira por aqui... Aliás a única que ja passou por essa residência ao que tudo indica, me sinto muito importante a cada pergunta sobre o Brasil e de como funciona o nosso país, e meio frustrada a cada vez que tenho que explicar que não moro no Rio de Janeiro, que eu nunca fui lá, que faz frio no sul do país, que não gosto de carnaval e muito menos de futebol, mas seguimos a prosa e dá tudo certo! 

Agora mudando de assunto rapidamente... Novidades rápidas:
* Minhas aulas estão aumentando gradativamente, e o tempo que passo na universidade começa a se tornar maior do que o que fico em casa.
* Está cada vez mais frio! Seriamente preocupada com o inverno! Esse gatinho me representa na maior parte do tempo, apenas com a cabeça pra fora das cobertas!


* E pra fechar o post com chave de ouro: Já sei onde vou passar o Natal e o Ano Novo, e claro que não vou contar agora, obviamente isso será uma série especial de post que vou fazer, e também é provável que tenha vídeos, e sim o objetivo é deixar vocês curiosos...

Beijos, da garota que está na Itália...

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Culinária sem fronteiras


Sabe aquele momento em que você sente um vazio por dentro? Obviamente no meu caso esse vazio se refere a fome... O que fazer quando nem McDonald consegue resolver isso? Creio que chegamos na mesma resposta: Aprenda a cozinhar!
Quem me conhece sabe, quando estava aí no Brasil passava longe do fogão, na minha mente eu tinha total certeza de que ele era um instrumento de altíssima periculosidade onde somente pessoas altamente treinadas poderiam mexer e fazer com que dali surgisse algo bom, em outras palavras: minha mãe.
Mas quando se embarca para um novo país se vai vazio, acho que é uma boa metáfora, vamos vazios, como baús que não tem nada, todo nosso conteúdo anterior ao intercâmbio deve ser deixado de fora, e embarcamos no avião completamente desarmados de qualquer coisa que impeça os novos conhecimentos de serem adicionados a nossa cabecinha! E foi isso que fiz, ou tentei fazer... Afinal ainda estou nessa viagem, muita coisa nova tem pra chegar. Mas voltando ao foco do texto que eu já estou me perdendo... Resolvi manter uma boa relação com a cozinha, e descobrir como jogar o arroz cru dentro da panela e fazer magicamente com que ele vá para meu prato cozido.


Mas existem dias na vida do ser humano, que nem o refinado arroz com ovo consegue te satisfazer e é aí, que entra as receitas mais elaboradas (e também o auxilio da mãe né Brasil - tenho um caderninho de receitas que pego via Skype). Eu precisava cuidar da minha alimentação, fazia quase dois meses que eu não comia alimentos que continham ferro, e aqui mesmo se você achar feijão, o grande problema é: onde cozinhar ele? 
Então eu encontrei a prima dele que tem uma quantidade de ferro absurda, sim estamos falando da Lentilha! Ela também deveria ser feita na panela de pressão, mas com um pouco de paciência, e com "um pouco" quero dizer muita, você consegue preparar ela em uma panela normal, então lá fui eu e adicionei paciência, bacon, cebola, cenoura, batata e pronto já tinha uma refeição que agora pelo menos uma vez na semana eu faço!


Depois disso, eu me senti a TOP cheff francesa que tem que criar, o negócio é criar (criar= sinônimo de correr para whatsapp e pedir novas receitas para a mamis). E então surgiram as berinpizzas! Oi? Calma que eu explico! Berinpizzas são: berinjelas a milanesa com um molho por cima e muito queijo e orégano... Uma diliciaa!


Mas todo o bom brasileiro sente falta daquele almoço de domingo bem especial... Aquele que é capaz de deixar uma residencia universitária com cheirinho de casa... Que tem gostinho de família! E foi aí que entrou na minha vida: O frango assado! Fui no mercado e escolhi uma bandeja que vem com três pedaços de frango (aliás se você quer saber minha dificuldade em comprar frangos veja aqui) e temperei no sábado, pra ele passar a noite em um contato espiritual com todos aqueles temperinhos... E na manhã do domingo lá foi o frango pro forno, e também já me empolguei e saiu uma salada de batata! Mais brasileiro impossível!


E você acha que eu parei por ai? Mas é claro que não! Como ousas pensar que eu não cheguei nas sobremesas ainda?! Creme de chocolate, bolachas divinas, nozes para todos os lados, e pronto lá estava minha torta de bolacha!


Agora sim chegamos ao fim desta pequena retrospectiva de grandes receitas destes 3 meses! Aliás, já estou fechando 3 meses de Itália, mas isso fica para um próximo post!

Beijos, da garota que está na Itália!

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Bologna

Mochila nas costas, bilhete de trem na mão e lá fui eu pra outra viagem, dessa vez o destino era Bolonha (Bologna). Uma cidade que tem o astral maravilhoso, um lugar que brinca com os seus diversos tons de vermelho, e consegue seduzir a quem chega em poucos minutos. Bastou eu sair da estação de trem e tive a certeza que não tinha como ficar apenas um dia e já aproveitei para passar a noite lá e assim poder ver tudo.


Bologna é arte e cultura espalhados por todos os lados! O que mais achei fascinante nela é que a toda esquina existe um ator, cantor ou qualquer gênero de artista de rua deixando o cenário mais lindo, é como um grande palco a céu aberto, onde cada um pode fazer seu pequeno show e exibir a todos os turistas seus talentos, e se ouve e vê de tudo... Por exemplo, uma bandinha de jazz que realmente foi uma das coisas mais incríveis que já escutei, assim como também passei por uma moça cantando ópera... Programa perfeito para se fazer lá é: escolher um dos inúmeros cafés que existem pela cidade, ficar em uma mesa ao ar livre e tomar um bom cappuccino ao som de alguma banda ou ainda vendo uma apresentação de teatro ou malabarismo.
Caminhei o dia inteiro, e devo contar para vocês que já estava escuro e eu não tinha vontade de ir para o hotel, queria ficar ali e saber como a cidade funcionava a cada hora do dia, mas as minhas pernas ganharam a batalha e fui descansar, afinal a viagem de Siena até lá foi bem puxada (primeiro com um trem até Firenze de mais ou menos uma hora e meia, que partiu da estação as 6 da manhã, e depois um trem de alta velocidade de Florença até Bolonha que levou cerca de duas horas). Quer saber como é um trem de alta velocidade?? Segue a foto! O negócio é tão maravilhoso que tem até tomada pro celular!



Então tirei um rápido cochilo, carreguei a bateria do celular, e parti para conhecer a noite de cidade!! Não fiz nada de especial, apenas fui para a Piazza Maggiore e fiquei sentada embaixo da Fonte de Netuno que foi construída entre 1563 e 1566 pelo escultor Giambologna e tem uma história bem engraçada:


Giambologna estava feliz e faceiro terminando sua obra de arte (Netuno representaria o poder da igreja e o domínio  do Papa Pio V sobre a terra assim como Netuno na mitologia), quando o cardeal da cidade ficou indignado com o tamanho do pênis da estátua, pois segundo ele isso seria uma afronta contra a moral e os bons costumes daquele povo (e da igreja né) e então pediu gentilmente ou não (isso a história não conta) para que o escultor diminuísse o tamanho dos documentos de Netuno... E como todo o bom artista que se preze, Giambologna ficou furioso com aquele pedido, como assim alguém interferindo na sua arte?? Mas o que ele iria fazer contra a igreja bem naquela época? EU respondo o que iria fazer meu povo!! Ele iria ser o pai da ironia e da ilusão de ótica!! Ok, ele foi lá e diminuiu o tamanho do pênis do deus grego, mas colocou na fonte ninfas que jorram água pelos seios... E a grande sacada foi que ele reprojetou a mão da estátua de forma que se você olha a estátua por traz, parece que Netuno está mais feliz do que devia no meio daquela praça... Sim a ilusão de ótica é que quem olha a estátua por outro ângulo, vê um pênis ereto! Agora me diga, é ou não é muito esperto esse Giambologna?! Ele teoricamente obedeceu o pedido do cardeal, mas cá entre nós deixou a obra muito mais "impura"! Dica do dia: nunca mande um artista mudar sua escultura!

Fonte-Netuno-Bolonha

E embaixo do deus grego eu fiquei observando os moradores, ouvindo a música que um senhor tocava com violino, e com aquele ar de amor... Aquela expressão que só os apaixonados tem, adivinha em que eu estava pensando? Sim, eu estava decidindo o que jantar!


Retornando para meu quarto depois de ter comido uma deliciosa massa e de sobremesa um tiramisu, aproveitei o excelente wifi para passar horas falando com a família com uma imagem sensacional!!
Dia seguinte, acordei e escolhi onde iria tomar café: em uma cafeteria muito simpática com direito a um cappuccino e um croissant de chocolate porque ninguém é de ferro né Brasil?! Peguei o trem de volta ao 12:20 e lá pelas 16:00 da segunda feira já estava em casa novamente... O que posso dizer dessa viagem? Estou apaixonada por essa cidade que tem tudo que se precisa pra viver, tem amor, boa comida, cultura em excesso e aventura a cada novo lugar, espero um dia voltar lá e poder ficar muito mais tempo do que fiquei, tenho certeza que vi tudo ou quase tudo, mas tudo é tão encantador que merece muito mais tempo, nem que seja horas livres apenas olhando a cidade mais vermelha da Itália, e com a universidade mais antiga da Europa!
Acho que por hoje era isso...

Beijos, da garota que está na Itália! 

domingo, 2 de novembro de 2014

Fisioterapia

Mais uma semana acabando, ou outra começando dependendo do ponto de vista que você tem, no Brasil em geral encaramos o domingo como o último dia da semana, já aqui na Itália esse dia é sinal de uma nova semana. Mas não é sobre o calendário que eu vim discutir aqui com vocês, e sim sobre meus últimos dias atendendo no hospital de Siena, e sobre todos os ganhos que tive, e também sobre meu novo amor.

Faz 3 semanas que comecei um estágio, onde desses 21 dias 14 eu passei na area da neurocirurgia, uma parte muito delicada do hospital como vocês podem imaginar, e eu estava cheia de receio, interrogações que já tinham sido levantadas no Brasil, e que eu esperava que desaparecessem aqui... Dúvida em relação a carreira que tinha escolhido, dúvida em relação ao tipo de profissional que eu gostaria de ser, e dúvida se estaria pronta para tudo isso... 
Então foram iniciados os trabalhos, e com o passar dos dias os presentes começaram a chegar, e acho que seria interessante eu contabilizar e fazer uma retrospectiva de tudo que me foi dado: eu ganhei mais de dez vovós, senhoras que diziam que queriam que eu fosse sua neta, senhoras que me chamavam de neta, senhoras que achavam realmente que eu era sua neta... Ganhei crianças de mais de 30 anos, e com os corações mais puros que já vi, ganhei  sorrisos e abraços de mães e pais zelosos, que estudaram tanto sobre o problema dos filhos que com certeza davam um banho de conhecimento em muitos médicos, ganhei o carinho de irmãos, esposas, amigos e filhos, ganhei inúmeras famílias que a cada bom dia me acolhiam e me faziam sentir parte daquilo tudo, sem contar as declarações de amor e pedidos de casamentos de belos e sensuais italianos acima de 80 anos que gritavam para o hospital inteiro ouvir "Malú amore mio" e como recusar tanto amor? Fui presenteada com uma bíblia de uma família que eu nem sequer atendia, na verdade aquela senhora era apenas colega de quarto de uma outra paciente que eu fazia atendimento, e ela chegou e disse "Lembra sempre, tu pode estar longe da tua família, mas nunca longe de Deus". Existe uma senhora em especial que me afeiçoei demais, ela me contou sua vida, era aquele tipo de vovó que não importa a hora do dia, ela vai estar sempre com um batom e com o cabelo super bem arrumado, ela havia vencido um concurso de beleza quando tinha minha idade, foi declarada a moça mais bonita de Siena, e cá entre nós, pra mim ela continua sendo a mais linda. Ela quem me deu o meu primeiro abraço aqui, em um dia não muito bom, quando achei que não ia conseguir tirar ela da cama, ela levantou e então demos as mãos e caminhamos por todo o corredor, e quando voltamos ela me abraçou, e naquele momento aquilo foi um abraço de Deus (créditos a Gi, minha amiga que também está em intercâmbio mas na Alemanha, obrigada pela frase Giovana). 
Cada vez que eu pegava na mão de algum paciente e era retribuída com um sorriso, ou apenas um aperto mais forte, aquilo fazia meu coração aquecer, e cada vez que eu saia de um quarto eu deseja secretamente que eu nunca perca o hábito de falar tocando no paciente, sorrindo para ele, e ouvindo ele, pois não importa onde esteja, Brasil, Itália ou China, não existe em nenhum  lugar do mundo uma pessoa doente que não vá gostar de alguém que lhe dê a mão e que lhe olhe nos olhos... De frio já basta o quarto que estão, já basta a vida que estão levando, cabe a nós profissionais da area da saúde esquentar por alguns momentos a vida deles, e isso só com o toque, com o sorriso sincero e com o olho no olho, que a gente nunca olhe a doença que deixa aquela pessoa no leito, e sim a pessoa que está ali.


E assim eu estou indo para mais uma semana de trabalhos no hospital, percebendo que recebi muito mais do que dei, aliás nem sei ao certo o que fiz para ter tido tanto carinho, nenhuma daquelas pessoas vai ler isso, mas de alguma forma cada uma delas me deu uma pecinha de um quebra cabeça, cada individuo foi respondendo as minhas dúvidas, e foi completando lacunas que existiam em mim, e no final eu que fui reabilitada, eu achei meu amor, meu novo amor, hoje sou apaixonada de corpo e alma pela minha profissão, sou feliz por poder dizer que estudo FISIOTERAPIA, que devolvo as pessoas um motivo pra seguir em frente, não escolhi a fisioterapia e quem conhece a minha história sabe que realmente eu não escolhi, que cai por acidente do destino no curso, o acidente mais bonito que podia ter acontecido, fui escolhida pela fisioterapia, e por ela quero fazer mais.
Deixo vocês com esse texto que foi meu coração que ditou, até a próxima pessoal...
Beijos, da garota que está na Itália!